Diários do Papai, 13 de setembro de 2019
O tempo todo
O pulso (ainda) pulsaE, coração batendo,
Tem-se pressa
O peito aperta
A pele sente
A ansiedade
Pela hora certa
Segue no engarrafado
Trânsito à frente
O grito, abafado...
O desabafo, adiado...
O carinho, atropelado...
Disciplina:
Acorda agora!
Termina de comer!
Faz teu dever!
Arre, Jesus,
Dai-me forças
- Já não vejo a hora
De essa gente crescer!
Acontece
Que a gente esquece
Que somos todos crianças
Num mundo de adultos
Que ainda vão surgir
Pra nos dizer o que fazer...
E o sufoco no trânsito,
A revolta no consultório
A indignação com o síndico
Os atrasos do escritório
O dinheiro que não deu
E as diferenças do casal
São a vida que nunca começou
Direito...
E o brinquedo que se perdeu
O ciúme da amiguinha
O chute que ele me deu
Acabam sendo nossa maturidade
Que sempre dará defeito...
O psicólogo arrogante
O sofá que afundou
O funcionário que aloprou
O rombo financeiro gigante
Os gêmeos que adoeceram
A filha que cedo adolesce
A avó que conflita
O filho que grita
O pai que se escondeu
A mãe que silencia...
A família segue bonita
Pela paz momentânea
No momento congelado
Da foto instantânea...
Por isso mesmo,
Larga o celular,
Desliga o computador,
Sai e chega mais cedo,
Arruma a casa por cima,
Limpa a louça e o medo,
Varre logo essa dor,
Que é cedo ainda...
Abre a janela, corre e voa
Que os filhos têm pressa:
É hora de pegar as crianças
Pelas mãozinhas lindas
E sair pela imensidão
Voando ligeiro pelo mundo
(Que ficou tão rasteiro
De pé no chão)
Até a última dobra
Da folha de papel colorida
Até se lembrar que a vida
Só vale mesmo se sobra
E se compartilha
Amor e imaginação...
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| Fotos: Alan Lawrence, em blog com série de fotos feitas em homenagem ao seu filho Will, portador de Síndrome de Down |






