

Sempre que vejo E.T. – O Extraterrestre, minha
memória retoma um antigo diálogo que tive com um primo na pré-adolescência,
época em que vi esse filme pela primeira vez: – Cara, eu nunca entendi qual é a desses meninos que continuam pedalando
as bicicletas enquanto voam: não é o E.T. que está fazendo todos voarem?! Será
que eles pensam que vão cair se pararem de ‘dar impulso’ com o pedal?!... A
tese era boa e eu sequer havia cogitado antes sobre este furo! Décadas depois,
acompanhando um longa com o trenzinho Thomas ao lado do meu querido SuperTrio de filhos, percebo algo
irritantemente parecido com a mancada do antigo filme do Spielberg: se essas
locomotivas todas desse famoso filminho inglês conversam, sentem emoções e
cumprem ordens diretamente dos chefes humanos, por que cargas d’água fica um
maquinista em cada uma delas?! Para conduzir o quê, se os trens são
autossuficientes?! Sim, é só prestar atenção na série Thomas e Seus Amigos e conferir!
Mancadas à parte, gosto muito de animações: eu mesmo
tenho a coleção da maioria dos filmes da Pixar, afora alguns clássicos japoneses
e da Disney que, aos poucos, fui apresentando à Mamãe e aos nossos pequenos. Por isso, nunca as chamei de “filmes
infantis”, tal como se costumava fazer antes, rotulando as animações em geral
como “para crianças”: os tempos evoluíram e, hoje, a maior parte delas é
igualmente voltada para um público mais jovem e adulto, que, inclusive entenderá
muito mais piadas e referências do que a gurizada! E mesmo aquelas produções
realmente endereçadas aos pequenos podem ser bem apreciadas pelos pais também (afinal,
normalmente estamos do lado)! De qualquer forma, eu assisto a tudo que posso
nessa área porque gosto, porque a SuperFilha
me pede pela companhia e porque sinto a necessidade de acompanhar – e não
falo somente da preocupação com o conteúdo, se adequado a sua idade, mas
principalmente por adorar seguir o seu ritmo, podendo conversar “de igual pra
igual” com ela sobre personagens e suas “tramas”, além de me ficar mais fácil
depois ir atrás dos brinquedos e das trilhas sonoras respectivas, comprando-os
ou baixando-as da internet e vivenciando tudo ainda mais sobre aquela sua
paixão da vez!
E, atualmente, posso dizer que a filhona tem uma “paixão
dupla”: o fenômeno O Show da Luna, animação brasileira nos mesmos moldes de outro
sucesso brasileiro, Peixonauta (ambos
desenvolvidos pelos mesmos criadores), só que com mais conteúdo educativo, uma
que a vez que a garotinha do título “investiga” fenômenos da natureza em meio a
brincadeiras de faz de conta ao lado do irmão Júpiter e do furão de estimação
Cláudio, explicando tudo com divertidas musiquinhas; e a “retomada” de um
antigo caso de amor pela ainda fenomenal Peppa Pig, que, apesar de mais voltada
para um público menor (justamente a idade em que ela começou a idolatrar a
porquinha, entre 3 e 4 anos, pouco antes de termos ficado um tempo sem
televisão por assinatura em casa), ainda é capaz de prender-lhe a atenção mesmo
com seus curtíssimos episódios (cerca de 5 minutos cada) reprisados à exaustão
pelo canal Discovery Kids – que
também exibe a Luna e, não por acaso, reprisa as duas atrações à noite, uma
atrás da outra!
Ambas as animações têm suas limitações e costumam
trazer alguns “efeitos colaterais”: enquanto O Show da Luna, rigidamente formulaico (começa com uma dúvida; a
descoberta da protagonista acontece num faz-de-conta; tudo se encerra com um show, onde uma canção descreve tudo), muitas
vezes deixa um gosto residual de frustração na Filha, com muitos episódios não explicando muito bem as “pesquisas”
feitas (algumas vezes, até eu fico sem me convencer!), a porquinha inglesa
Peppa acaba por influenciar negativamente a petizada a imitá-la em algumas de
suas malcriações ou observações irritantes – cansativo o tanto de vezes que
minha garota já repetiu, no mesmo tom da personagem, “Isso é muito chato!”, “Isso é
uma coisa só de meninas!” ou “Não vou fazer nada!”, afora os rótulos e
preconceitos veiculados para alguns personagens (como o “papai bobinho” Papai Pig, retratado como um bobalhão
que nada sabe resolver sem ajuda e ainda por cima é vaidoso, um “perito”, quando
se sai bem: nós, pais, somos assim?!)... Mas a criatividade da maioria dos
roteiros e o fato de as duas protagonistas serem meninas inteligentes e
determinadas de 6 anos prevalece e igualmente cativa os pais de meninas – embora
não tenham “contraindicação” alguma para os meninos!
Independente de qualquer senão, o mais legal mesmo é
ver a evolução do animado gosto pessoal dos SuperFilhos: tudo começou com a filhona, aos 6 meses de idade,
introduzida por meio de uma então estreante Galinha Pintadinha (único DVD
não dado por mim, mas pela Vovó-Dinha), e que seguiu com animações sobre obras de grandes compositores (como Toquinho
no Mundo da Criança), alguns episódios extraídos da TV (como os
especiais da Dora) e outras tantas imitações da original galinha (como a tosca
formiga igualmente azul, cópia do Flick de Vida
de Inseto, na fajuta série trilíngue Bob
Zoom), passou pelo “amadurecimento”, a partir dos seus três anos e meio, com seus
primeiros longas (Frozen e, depois, alguns novos clássicos japoneses para atenuar
aquela “febre”,como Totoro, Ponyo e Castelo Animado), enveredando por verdadeiras
“comédias jovens” em desenho (Meu Malvado Favorito 1 e 2; Rio 1 e 2; Monstros S.A.; Universidade
Monstros; A Era do Gelo 1 e 2;
As Meninas SuperPoderosas), voltando à
Disney/Pixar com títulos menos badalados (Peter
Pan; Alice no País das Maravilhas; Valente) e, por fim, coroando seu já
rico conteúdo cultural com todas as “coisas de meninas” imagináveis (como a
“ex-Sininho” em TinkerBell e O Segredo
das Fadas, e todas as princesas Disney:
Branca de Neve e Os Sete Anões; A Bela Adormecida; A Bela e A Fera; Mulan; Cinderela; A Pequena Sereia; Enrolados; A Princesa e O Sapo); e,
hoje, tudo se repete com os super-irmãozinhos, que seguem os mesmos passos da mais velha quase na
mesma ordem...
Hoje, ao presenciar os SuperGêmeos coladinhos ao televisor – literalmente, vez que ficam
apoiadinhos no rack onde fica a TV e
ainda dão palmadinhas na tela quando se empolgam, minutos antes de eu acabar
com a festa em respeito aos seus pobres olhinhos e à tela novinha em folha! – e vidrados com a magia de Totoro ou as peripécias de Blu e Jade em
Rio, sinto
certo orgulho por ter tido a quase total participação em todo este processo, acompanhando
junto e sugerindo sempre a próxima sessão (com o devido download das
trilhas sonoras respectivas!), nessa espécie de “legado animado” que lhes deixo, este humilde Papai – não é o Pig! – que aprendeu cedo, lá pelos idos dos anos 90 com obras-primas como o norte-americano Fantasia (tudo começa mesmo com o Mickey, não é mesmo?) e a ficção científica japonesa Akira (e, tempos depois, com o singular francês As Bicicletas de Belleville e a magia futurista de Wall-E – nenhum destes visto pelos ainda não preparados super-pequerruchos), que desenho animado poderia ser arte e entretenimento misturados num pacote dos bons para qualquer idade que se permitir acompanhar esses deliciosos jeitos especiais de se contar uma história...












