
Acabou nosso carnaval/ ninguém ouve
cantar canções/ ninguém passa mais brincando feliz/ e nos corações/, saudades e
cinzas foram o que restou... Assim
rezavam os lindos versos de Vinícius de Moraes sobre o ocaso do fim da Festa
Maior, em sua Marcha da Quarta-Feira
de Cinzas. E não há como não lembrar esta bela marcha-rancho
olhando o panorama deste fim de carnaval aqui em casa: restos de confetes e
serpentinas ainda são facilmente vistos no carpete do carro e por baixo do sofá
da sala; na parede do meu quarto, duas fantasias ainda dependuradas – de bailarina, quando da primeira
apresentação da SuperFilha no
balé da escola (agora aproveitada como colombina), e da Rainha Elsa, de Frozen, a tão cobiçada roupa
enfim comprada; e, na TV, os resumos editados dos desfiles da noite
anterior como deslumbres de cores para os SuperGêmeos (que também se
vestiram de palhacinhos, graças à Vovó-Dinha –,
e, pela enésima vez no pen-drive,
a repetição da animação Rio, rara referência de coisas brasileiras em desenho animado, onde um monte de pássaros sambam ao som da maravilhosa Favo de Mel (versão
nacional de Real in Rio,
ambas composições de Carlinhos Brown e Sergio Mendes)... E, agora, a semana só “começando”
e toda essa "ressaca" pós-feriadão, aliada a uma gostosa chuva, não
quer deixar minha menina levantar-se da cama!
Mas se engana quem pensa que se
trata de uma casa que respira carnaval: um tanto quanto avesso ao período
momesco, no máximo dando uma conferida na movimentação pela televisão, nunca
fui de incentivar a veia foliã de nenhum dos meus filhos – tal como muitos pais
que forçam a barra com os pequerruchos... Mas o lado lúdico da Festa Maior
sempre me pareceu muito bacana para a criançada e, assim, o cenário de
"fim de festa" adveio simplesmente por causa das muitas brincadeiras
entre a Filha e suas coleguinhas, fosse no
bailinho da escola, fosse num aniversário carnavalesco de 4 anos de uma
garotinha do condomínio, ou, ainda, na sua primeira vesperal num clube
local, conduzida pela ex-foliã Mamãe (essa,
sim, "dançava que se acabava" na adolescência...). Já o carnaval dos SuperBebês se resumiu a participações mais que
especiais em sua primeira festinha – aquela do
condomínio – e na pausa para fotos com os modelitos comprados pela
avó paterna, quando por lá passamos a terça-feira gorda. Até ensaiamos uma
viagem para uma capital próxima, bem tranquila, mas que mixou diante de um duro
resfriadinho dos Bebês, do extenuante cansaço de nossas rotinas
diárias e da volta de uma super-dor estomacal que, de tempos em
tempos, enfraquece este pobre super-herói combalido...
Na verdade, a viagem de carro tinha
como meta cumprir duas funções: uma, rever parentes da Mamãe, levando a filhona
a passar dias diferentes e mais divertidos na presença dos seus adorados
primos; a outra seria uma espécie de "fuga para a tranquilidade"...
Nem seria por causa de algum barulhento baile próximo ou qualquer outro
inferninho carnavalesco na vizinhança, mas, sim, devido a um "retiro
religioso"! Pois é, há quase sete anos morando no alto desta super-torre
de observação (todo super tem uma morada estilosa ao menos no nome, né?) e todo
carnaval é a mesma coisa: um colégio municipal ao lado do nosso condomínio é
sempre cedido para barulhentas igrejas pentecostais fazerem seus
"encontros de jovens" e acabar com o sossego de todos em volta graças
às suas infernais bandas 'golspel' e seus alucinados gritos de
"louvor" em caixas pra lá de amplificadas! O barato foi que, neste
ano, a maior festa pagã trouxe um milagre: ninguém na quadra do colégio e, com
a promessa de sossego, aliada àquelas situaçõezinhas chatas que citei antes,
eis que o bloco do “vamos ficando por aqui mesmo” acabou vencendo de lavada!




