quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Crescendo


SuperGêmeos já devidamente a postos em suas cadeirinhas e a irritabilidade do pós-meio-dia imperava, aquela gritaria no carro: o SuperFilho, nervoso com alguma pequena contrariedade qualquer, já se debatia e tentava abrir a porta do seu lado esquerdo como forma de protesto; a SuperFilhotinha exigindo do flanco direito, aos berros, que sua canção preferida da vez tocasse logo no carro... E o Papai aqui, já tendo ligado para a recepção da entrada/saída dos "meninos maiores" do Fundamental para que a SuperFilha fosse chamada antes pelos microfones, vinha conduzindo o carro da entrada do Infantil até ali, parando de forma meio irregular entre um canto da última vaga e a faixa de pedestres do Fundamental, e, naquela espécie de drive-thru improvisado que praticávamos há tempos, esperava a Filha já estar na recepção e nos avistar o quanto antes para vir correndo sentar ao meu lado, e, em seguida, voarmos para casa no tempo certo de todos chegarem acordados, almoçarem, descansarem, fazerem as tarefinhas...
– Oi, Pai!
– Olá, meu amor lindo: tudo bem?
– Tudo... Só ainda chateada com o recreio, que tem ficado muito curto...
– Não é porque vocês, meninas, insistem naquele "lanche comunitário" e acabam perdendo muito tempo com todo esse lance social?
– Até que não... Ficou chato isso: – Ei, você tem que vir, porque TODAS as meninas estão lanchando juntas... Tem dia que eu não quero e prefiro merendar com o Gui...
– É só dizer... Mas me conta mais: como foi o seu dia, minha rainha?
– Foi bom... Voltei a ser amiga da Letícia!
– E isso é bom?
– Acho que sim...
– Como assim? Não foi ela quem deixou de ser sua amiga? Passou a viver te provocando?
– Por isso é que voltei a amizade: 'tava cansada disso!
– Mas foi ela ou foi você quem retomou?
– Fui eu... E eu também não aguentava mais as pessoas perguntando: – Mas por que você não fala mais com ela... Vocês eram tão amigas... Agora não tem mais isso!
Preocupado com sua autoestima, a fim de não permitir que ela crescesse como essas meninas tolas de hoje em dia, ávidas pelas aparências e com "o que vão pensar" pelas redes sociais da vida, respirei fundo e passei a lhe falar que ela precisava se valorizar, jamais se preocupando em agradar ou com o que vão pensar, no que ela logo me interrompeu, categórica:
– Pai, só fiquei amiga dela; não voltei a ser melhor amiga... Também não vou fazer slime pra ela como fiz para as outras e, se ela voltar a me provocar, deixo de ser amiga dela outra vez!
Preocupado que estava com todo aquele projeto de pragmatismo social, eu que sempre soube ser só e a valorizar muito poucas pessoas no meu convívio sem sair adotando a todos como "amigos", acabei me acalmando com a consciência da minha garota diante de tudo! Sem dúvida, ela estava crescendo... E, ao olhar pra trás pelo retrovisor de dentro do carro e perceber que os gêmeos já dormiam, eu elucubrava com meus botões sobre como chega cedo o dia em que os filhos começam a seguir caminhos acertados independentemente do que você determina, valendo-se de suas próprias capas em voos solos – eu só não esperava que fosse tão cedo...
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