SuperGêmeos já devidamente a postos em suas
cadeirinhas e a irritabilidade do pós-meio-dia imperava, aquela gritaria no
carro: o SuperFilho, nervoso com alguma pequena contrariedade
qualquer, já se debatia e tentava abrir a porta do seu lado esquerdo como forma
de protesto; a SuperFilhotinha exigindo do flanco direito, aos
berros, que sua canção preferida da vez tocasse logo no carro... E o Papai aqui,
já tendo ligado para a recepção da entrada/saída dos "meninos
maiores" do Fundamental para que a SuperFilha fosse
chamada antes pelos microfones, vinha conduzindo o carro da entrada do Infantil
até ali, parando de forma meio irregular entre um canto da última vaga e
a faixa de pedestres do Fundamental, e, naquela espécie de drive-thru improvisado
que praticávamos há tempos, esperava a Filha já estar na
recepção e nos avistar o quanto antes para vir correndo sentar ao meu lado, e,
em seguida, voarmos para casa no tempo certo de todos chegarem acordados,
almoçarem, descansarem, fazerem as tarefinhas...
– Oi, Pai!
– Olá, meu amor
lindo: tudo bem?
– Tudo... Só
ainda chateada com o recreio, que tem ficado muito curto...
– Não é porque
vocês, meninas, insistem naquele "lanche comunitário" e acabam
perdendo muito tempo com todo esse lance social?
– Até que não...
Ficou chato isso: – Ei, você tem que vir, porque TODAS as meninas
estão lanchando juntas... Tem dia que eu não quero e prefiro merendar
com o Gui...
– É só dizer...
Mas me conta mais: como foi o seu dia, minha rainha?
– Foi bom...
Voltei a ser amiga da Letícia!
– E isso é bom?
– Acho que sim...
– Como assim?
Não foi ela quem deixou de ser sua amiga? Passou a viver te provocando?
– Por isso é que
voltei a amizade: 'tava cansada disso!
– Mas foi ela ou
foi você quem retomou?
– Fui eu... E eu
também não aguentava mais as pessoas perguntando: – Mas por que
você não fala mais com ela... Vocês eram tão amigas... Agora não tem
mais isso!
Preocupado com
sua autoestima, a fim de não permitir que ela crescesse como essas meninas
tolas de hoje em dia, ávidas pelas aparências e com "o que vão
pensar" pelas redes sociais da vida, respirei fundo e passei a lhe falar
que ela precisava se valorizar, jamais se preocupando em agradar ou com o que
vão pensar, no que ela logo me interrompeu, categórica:
– Pai, só
fiquei amiga dela; não voltei a ser melhor amiga... Também não vou fazer slime pra
ela como fiz para as outras e, se ela voltar a me provocar, deixo de ser amiga
dela outra vez!
Preocupado que
estava com todo aquele projeto de pragmatismo social, eu que sempre soube ser
só e a valorizar muito poucas pessoas no meu convívio sem sair adotando a todos
como "amigos", acabei me acalmando com a consciência da minha garota
diante de tudo! Sem dúvida, ela estava crescendo... E, ao olhar pra trás pelo
retrovisor de dentro do carro e perceber que os gêmeos já dormiam, eu
elucubrava com meus botões sobre como chega cedo o dia em que os filhos começam
a seguir caminhos acertados independentemente do que você determina, valendo-se
de suas próprias capas em voos solos – eu só não esperava que fosse
tão cedo...





