Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal.
Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
(...)
§ 2° É abusiva, dentre outras a publicidade (...) que (...) se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança (...).
Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078/90
Atenção, superpais e supermães: vocês já ouviram falar em unboxing?! Trata-se de uma perigosa forma de veiculação de produtos, na sua maioria infantis, que consiste, como a própria tradução literal do termo em Inglês demonstra, em "desencaixar" um produto em frente a uma câmera, geralmente só aparecendo as mãos do interlocutor, que vai narrando as vantagens ou desvantagens de determinados produtos em milhões de vídeos espalhados pela internet... Tudo bem que esse estilo de mídia até tenha nascido com boas intenções, em meados dos anos 2000, com jornalistas ou técnicos comentando sobre produtos de tecnologia e os custos-benefícios de se adquiri-los... Mas e com o mundo infantil de hoje, ligado e conectado que está à TV, ao notebook, ao tablet ou ao celular? Praticamente impossível de se impedir que diariamente acompanhe por alguns minutos, horas ou, se se deixar, por um turno inteiro do dia, qualquer traquitana "inocentemente e sem interesse algum além de curtidas" em tais filmetes virtuais - um convite para o consumismo, portanto!
Entretanto, tal como evidenciam os dois artigos mencionados no início deste texto, considera-se publicidade abusiva - e, portanto, prática ilegal e criminosa - toda aquela que, dentre outras, não se fizer explicitar como propaganda e/ou abusar da falta de experiência de crianças. Logo, aí reside o perigo de tais "vídeos inocentes": a grande maioria destes "criadores de conteúdo virtual" recebem os produtos diretamente dos fabricantes ou mesmo dinheiro para promover tais produtos, especialmente os que só apresentam suas qualidades - como se dá com a gigantesca leva de vídeos em que são abertos brinquedos e mostrados todos os seus acessórios: como não deixar louca por comprar o que ali se mostra uma criança que acompanha, por exemplo, caixas inteiras cheias de bolas da famigeradamente cara boneca da moda, L.O.L. Surprise, sendo abertas e exibidas a esmo, como se se achassem essas bolas de graça por aí?! Foi assim que a SuperFilha entrou nesse vício...
Uma das mais famosas "blogueiras" deste setor, a garota Júlia Silva, de 11 anos, em recente entrevista dada a um portal de notícias, defendeu-se por seu pai, o "Papai Silva" Dreyfus (que também se mostra ao lado da filha em muitos vídeos, em micos incomensuráveis...), de que tais produções sejam todos grandes comerciais subliminares: "Minha filha só fala dos brinquedos de que gosta, e, se decide falar de algo que ganhou, ela avisa que foi enviado pela empresa x, sempre bem transparente. Hoje, a Julia faz pouco 'unboxing', faz mais a historinha com bonecas, por exemplo. Mas a grande maioria do que ela mostra, cerca de 80%, sou em quem compra. Se isso incentiva o consumismo? Talvez. Mas o importante é que o consumo tem de ser regulado pelos pais".
Neste ponto, o esperto Papai aí está bem certo: o controle deve mesmo ser dos pais! E nem falo somente quanto aos desejos de consumo dos filhos, mas também, e principalmente, do que permitimos que eles vejam! Afinal de contas, que porcaria de tendência comportamental é essa em que as crianças estão se metendo hoje em dia: assistir a outras crianças (e adultos!) brincando pela TV?! E as dezenas de brinquedos que lhes compramos: porque não se sentam e vão brincar com eles?! Esse torpor de imagens, agora ainda mais facilmente disseminadas pela internet, tem que ser bastante moderado em quantidade e qualidade para os pequenos... E, ainda assim, eles vão implorar por mais, uma vez que nada legal ou juridicamente tem sido feito para conter essa leva de irregularidades a se aproveitar da criançada! Aqui, por exemplo, não se fala de outra coisa: enquanto os SuperGêmeos já pedem o nefasto canal do Youtube, Brinquedos Felizes, a Filha, de vez em quando, fala do tanto que gostaria de visitar a Júlia Silva e conhecer o quarto dela, lotado dos brinquedos que ela vive exibindo...




