
Ao Mesmo Tempo
Ela me chama o dia inteiro
Ele se atrasa pra chamar a atenção
Ele é travesseiro; ela, balão!
Ela corre e sobe em tudo e por cima de mim
Ele me pisa, derruba e destrói e grita
Ela é bonita; ele puxou a mim...
Às tantas, ainda agitam
Ambos querem falar
E à toda só se comunicam...
Por sobre as minhas dores mais febris
E de derrota repetida
Ela me devolve à vida quando me sorri
Ele já me ensina paciência
No seu grito agoniado,
Mas olhar de inocência
Ela só quer se for agora
Ele não fica muito atrás...
Ela é um azougue; ele, aguarrás!
Com seu olhar de pimenta
E agilidade de pipira
Ela é só um borrão na fotografia
Ele para e se apacenta
Para, logo depois, nova ira:
Berra, desmonta e se irradia!
Ela já quase uma mocinha,
Faceira, porém debochada:
Ri depois do beicinho e de ficar emburrada!
Ele ainda bobinho,
Um pouco mais baixinho,
Sabe ser um rude homenzinho da mão pesada!
Eles às vezes se pegam:
Até outro dia ele mordia
Ambos chutam, empurram e resfolegam
Antes da próxima jornada...
Nem parei, nem vi direito
Eles já cresceram desse jeito
E eu quase não me lembro de nada...
Quem disse que o tempo é perfeito
Ou ser pai é ser escorreito?
Meu peito segue sempre pesado...
Ontem trabalho, hoje culpas
Me avulta o tempo todo muito bagunçado...
Nem o melhor, nem tão ruim
Sigo pai assim, assim
Para eles, a mais velha e minhas próprias criaturas
E em meio a tantas adoráveis diabruras
Digo e repito: sou feliz um tantão assim!
Ele é realmente bonito... Ela puxou a mim...






