– Sim, chegamos ao shopping, mas, antes de irmos ao cinema ver Mohana e aos brinquedos novos, em primeiro lugar nós compraremos o presente da sua prima, Filha – e eu quero lhe dar um livro, Carolzita!
– Então eu quero
ou O Diário de Um Banana ou O Diário de Uma Menina Nada Popular!
– Não, não...
Como vai ser o tio quem vai lhe dar o livro, então que tal deixar o tio
escolher? Eu queria lhe dar um desses aqui, olha só: Reinações de Narizinho, do Monteiro Lobato, O Mistério do Cinco Estrelas, do Marcos Rey, ou essas crônicas
escolares do Luiz Fernando Veríssimo...
– ’Tá bom...
– Oxente, mas
que cara amarrada é essa?! Não quer nenhum desses?!
– Eu queria os Diários, porque eu já li o 1, o 2 e o 3
do Banana, e alguns da Menina Nada Popular... Depois que eu ler
todos, daí eu posso ler esses aí...
– Mas uma coisa
em nada exclui a outra, menina, que bobagem é essa?! Você já tem 11 anos e eu
queria te dar de presente, pelo Natal e pela sua vinda aqui à Cidade, um livro
marcante, uma boa Literatura para incentivar suas leituras...
– Mas eu gosto
de ler... Os Diários!
– Só que isso
nunca foi Literatura! Olha isso: Três linhinhas soltas e um desenho... Mais
quatro linhas soltas, que nem sequer formam um parágrafo verdadeiro, e mais um
desenho infantilizado... Desde quando isso é leitura?!
– Não precisa
folhear assim, eu conheço o livro...
– É, mas eu só
estou tendo o desprazer de conhecer agora! Jesus... É isso que vendem agora
como literatura Infanto-Juvenil?
– Infelizmente,
senhor... Mas já que ela gosta de texto com gravuras, e o senhor deseja algo de
mais conteúdo, pelo visto, por que o senhor não tenta este aqui? É sobre aquela
jovem que queria estudar e ganhou o Nobel da Paz... Bem adaptado para a idade
dela...
– Pois é, seria
bastante interessante, mas ela está irredutível: veja a sua cara emburrada!
– Não fica com
essa cara, Prima... Você só quer
esses livros, não quer nenhum que Papai ’tá
oferecendo, poxa!
– Ah, prima: vá
ler suas coisinhas infantis, vá...
– Não seja
grosseira, Carolzita... Já chega: é isso que você quer, então Diários de Uma Menina Banana será!
– Diários de Uma Menina Nada Popular...
– Que seja, dá
na mesma!
– Eles são
sempre assim nessa idade, senhor... Suas filhas?
– As duas, não,
somente a mais nova – essa mocinha de 6 anos, minha rainha... A mais velha ali é
minha sobrinha, passando férias com meu irmão divorciado – hoje era o meu dia
de levá-la ao shopping, ao cinema, à
livraria... Ainda tenho um casal de supergêmeos,
ficaram com a Mamãe em casa...
– Interessante,
pois levar ao shopping é mais papel
do pai, não é?
– É que meu tio
é igual à minha prima Carolzita, moça: ele é MEIA! Rá, rá, rá, rá, rá!
– “Meia”?
– É... Espécie
de código de família que minha filha inventou... Quer dizer que a pessoa é
boba, chata ou ruim! E não fale assim, Filha, que você também tem seus momentos
bem “meia”, né? Quando fica só naqueles repetecos intermináveis dos filmes da Barbie e nem liga para as animações
bacanas da Pixar, como Procurando Dory, que o Pai queria te
mostrar...
– 40 reais,
senhor!
– Tudo isso por
esses diários de banana?!
– É de Uma Menina Nada...
– Sim,
Carolzita, eu já sei! Vamos que já está tarde e...
– Mas, Pai: nós não vamos mais patinar no
gelo? Ou andar naqueles andadores? Ou pular naquele pula-pula gigante? Ou...
– Sim, vamos,
sim... Estou cansado depois dos nossos passeios de ontem, pela praia, e de hoje,
no parque aquático... Mas o que é que eu vou fazer: prometi, que remédio! Ei,
ei, esperem aí, vocês duas: já estou terminando de pagar aqui! Obrigado, minha
querida!
– Obrigada, senhor:
até logo!
– Ah, até, minha
filha: feliz 2017 para você!
– We wish you a merry christmas,We wish you a
merry christmas,We wish you a merry christmas and a happy new year...
– Legal, Filha,
mas já acabou o Natal...
– Ué, e por que
todo o shopping continua enfeitado
com esse monte de Papai Noel, de árvores de Natal, de luzes...
– É que o
costume é deixar os enfeites até o dia 06, quando da chegada dos Reis Magos...
– Chegada de quem,
pai?
– É uma longa
história, meu amor lindo... De qualquer forma, as festas natalinas já
acabaram...
– É, e eu nem
gosto dessas musiquinhas natalinas... Prefiro Fifth Harmony, Kate Perry, Justin Bieber...
– Meu Deus,
Carolzita, mas assim já é demais – a massificação também passa pela Música?!
Jesus, eles fazem lavagem cerebral geral desde a pré-adolescência?
– É o quê, Tio?
– Nada, não,
esquece... Mas qual o problema com os artistas nacionais?
– Não
conheço... Até gosto de uma música daqui do Brasil, uma do Luan Santana...
– Ah, não, Luan
Santana é “meia”...
– Rá, rá, rá,
rá, rá... Meia...!
– Não chateia,
prima!
– Foi sem
querer, Filha... Puxa, Carolzita, tantas bandas com apelo jovem, e com seu
valor: Skank,por exemplo! Até aqueles
chatinhos do Jota Quest... Qualquer
coisa é melhor do que esses cantores e bandas chicletes e milionários
norte-americanos... E por que não os Titãs?
Eles formavam uma banda bem inovadora nos anos 80, mas hoje andam bem levinhos,
estão bem joviais, quase adolescente o som que vêm fazendo...
– Eu não conheço
Titãs...
– Eu conheço,
Pai!
– Conhece,
Filha?! A banda?!
– Não... Mas eu
sei o nome de cada um dos Titãs...
– Os nomes dos
cantores da banda do Tio?
– Não, Carozita:
ela deve estar falando dos Titãs da Mitologia grega, deve ter aprendido na
escola e...
– Estelar,
Ciborgue, Ravena, Mutano e Robin!
– Ah, tá: você
estava falando dos Novos Titãs... Rá,
rá, rá, rá, rá!





